Anais

Publicado no VII CBEU, em 2016.

Área: CV

Subárea: Saúde

Órgão de Fomento: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

AUTORES: ANA CAROLINA MORAIS JARDIM (Autor)
Luiz Carlos Castello Branco Rena (Orientador)
Mariana Campos Moreira (Colaborador)
Matheus Phelipe Beato Teixeira (Colaborador)
Título
OFICINAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA ESCOLA PÚBLICA: SEXUALIDADE, AFETO E HOMOAFETIVIDADE.
Palavras-Chave
juventude, sexualidade, educação em saúde
Resumo
Desde seu início, em 2004, o Projeto Fala Sério (PSF) vem fazendo parcerias com as escolas de educação básica das Redes Municipal e Estadual de Betim/MG, para tratar das questões relacionadas a vivencia afetivo-sexual com os alunos, oferecendo oficinas de educação em saúde numa abordagem interdisciplinar articulando saberes da psicologia e da enfermagem. Em 2015, o Projeto Fala Sério, teve continuidade em seu 10º ano consecutivo, reafirmando a proposta de contribuir com a formação humana dos educandos em escolas públicas de ensino médio. A partir do diálogo com as escolas e uma reflexão crítica sobre o atual cenário juvenil identificou-se a demanda por espaço de escuta e reflexão sobre as questões relativas à afetividade e à sexualidade na adolescência e na juventude. Assim, a equipe do Projeto Fala Sério decidiu por um novo enfoque na discussão sobre sexualidade, gênero e afetividade, enfatizando as questões relacionadas à homoafetividade e homofobia, priorizando o público LGBT nas escolas parceiras. Um dos motivos para esse novo enfoque foi o aumento das práticas de risco que esses jovens, muitas vezes por falta de informação ou oportunidade de reflexão, se submetem e o número crescente de jovens de 15 a 24 anos que são infectados pelo vírus HIV. Dessa forma, o Projeto se propôs a fortalecer e ampliar as ações de prevenção e promoção da saúde sexual e reprodutiva, junto aos jovens através da construção da consciência de cuidado de si e do outro (a). Além disso, o Projeto Fala Sério buscou proporcionar uma reflexão sobre as práticas de risco, condições de vulnerabilidade e divulgação de informações sobre as doenças sexualmente transmissíveis (DST’s) e sobre a AIDS. Também buscou proporcionar aos adolescentes e jovens, considerando uma estratégia metodológica dos conteúdos relacionados à afetividade e sexualidade, a oportunidade de compartilhar suas dúvidas e sentimentos relativos à dimensão afetivo-sexual humana. Considerando os contextos socioculturais em que os jovens e adolescentes estão inseridos, onde prevalece à cultura do ódio e da intolerância, adotamos Oficinas e Rodas de Conversa como metodologia participativa e dialógica, permitindo a vivência de técnicas mais lúdicas tais como jogos de papéis, sócio dramas, arte-educação e dinâmicas de grupo, como ação estratégica para desconstrução de tabus e preconceitos. A equipe de extensionistas do projeto foi dividida em subgrupos que ficariam responsáveis pela realização das atividades em cada escola parceira do projeto. Em um primeiro momento as escolas foram visitadas pelas equipes, foi feito o convite para uma conversa inicial com os alunos de maneira informal, abordando-os durante o recreio para falar um pouco sobre o projeto. Os que aceitaram o nosso convite formaram uma grande roda no pátio da escola, onde iniciamos um pequeno debate com os mesmos para, além de expor o projeto e seus objetivos, já expormos nossa metodologia e podermos avaliar as demandas daquele grupo específico. Ao final da conversa foi feito um novo convite aos alunos, dessa vez para fazerem parte do grupo efetivo do PSF na escola. Dos participantes desse primeiro momento, 72 alunos se prontificaram a constituir o grupo fixo e participar dos encontros quinzenais do projeto. Esses alunos foram divididos em quatro grupos, para que pudéssemos trabalhar com um grupos menores, proporcionando um espaço onde todos poderiam se expressar, compartilhar suas experiências e expor suas dúvidas. Apesar de serem subdivididos em grupos menores, todos os alunos participaram das mesmas atividades. Tendo por objetivo a constituição do grupo e a introdução do projeto, realizamos a “dinâmica dos apelidos”, onde cada participante recebeu uma folha de papel e a dividiu em quatro partes. Em cada parte eles deveriam, de forma individual, preencher com os apelidos que eles conheciam da parte do corpo feminino ou masculino solicitado. Nos quadrantes superiores lhes foi solicitados que listasses todos os apelidos conhecidos para os órgãos sexuais femininos e masculinos respectivamente. Nessa parte houve uma grande surpresa por parte dos alunos que se mantiveram bastante acanhados. Posteriormente, lhes foi solicitado que, nos quadrantes inferiores, fossem listados os apelidos conhecidos para o “cotovelo feminino” e o “calcanhar masculino”. Novamente os alunos ficaram surpresos e confusos com o pedido. Após alguns minutos dados para completarem a atividade, foi feito em um papel Kraft o mesmo quatro e pedimos aos alunos que nos dissesse quais os apelidos conhecidos para cada parte do corpo. Como já esperado, foi grande a variedade de apelidos destinados aos órgãos sexuais femininos e masculinos, mas apenas dois ou três apelidos para o “calcanhar masculino” e o “cotovelo feminino” (que foram inventados na hora por alguns dos participantes). O objetivo dessa prática foi evidenciar e questionar aos alunos o enorme número de apelidos que destinamos aos órgãos sexuais, o porquê de darmos apelidos a estes órgãos e o que esses apelidos representam. Já durante a explicação da dinâmica, muitos alunos ficaram surpresos ao ouvirem os monitores falarem palavras como “pênis” e “vagina”, alguns se entreolharam e deram risadas, mas a surpresa foi geral. Durante a reflexão feita com os alunos, observamos juntos os apelidos que são habitualmente atribuídos aos órgãos sexuais, tendo estes, na maioria das vezes, conotações de domínio para o órgão masculino (como pistola, cassete, pau, etc.) e de escárnio para o feminino (capô de fusca, pata de camelo, etc.). Posteriormente observamos a escassez de apelidos para as outras partes do corpo observadas e muitos dos alunos justificaram esse faço com afirmações como “porque são palavras comuns” ou “porque são fáceis de falar” (referindo-se as demais partes do corpo). A questão final que levantamos com os alunos foi o porquê de ser tão simples e corriqueiro falar sobre e pronunciar as palavras “joelho” e “cotovelo” e por que é tão difícil abordar a temática sexual. A discussão se estendeu por um bom tempo, onde através do diálogo começamos a compreender como nossa postura frente à sexualidade é moldada pelo social e pela cultura e a partir daquele momento seria esse o enfoque dado pelo projeto naquela escola, atendo a demanda apresentada pelos alunos.
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